Vivem na periferia de Lisboa, têm entre 16
e 17 anos, já tiveram pelo menos uma retenção escolar ou são de famílias que
enfrentam problemas de negligência parental, violência doméstica ou
dependências de álcool ou drogas. Este é o perfil da delinquência juvenil na
região de Lisboa, que surge na investigação do Centro de Estudos Sociais (CES)
de Coimbra.
O estudo, apresentado no passado dia 7 de
Novembro, na Faculdade de Economia da Universidade Coimbra, mostra que mais de
60% destes jovens de Lisboa presentes a juízes de menores faltam às aulas com
frequência e 76% tinham já uma ou mais retenções escolares. Também mais de
metade mostrou comportamentos agressivos e um quarto mostrou ter
"problemas de desobediência ou com figuras de autoridade".
Os dados permitem aos investigadores
concluir que as retenções escolares estão relacionadas com práticas de delinquência.
Daí a urgência de detetar estas situações numa fase precoce: "Não é
possível pensar numa solução sem se pensar na escola", explicou à Lusa o
coordenador do projeto, João Pedroso, avisando que as medidas atuais são
insuficientes e que qualquer política vocacionada para esta população terá de
envolver a família e o meio.
O projeto de investigação do CES analisou
100 inquéritos tutelares educativos arquivados e 104 processos tutelares
findos, de 2012, provenientes dos tribunais de família e menores de Lisboa,
Setúbal, Barreiro, Loures e o Juízo de Família e Menores Grande Lisboa-Noroeste
(Sintra). Os resultados revelam ainda que cerca de metade destes jovens já teve
um contacto com o sistema judicial e quase um terço foi alvo de uma
"medida tutelar educativa" - 18 na comunidade e dez em internamento.
Um terço dos jovens invoca problemas
económicos graves como justificação principal para ter praticado os crimes.
Contudo, com a crise, não se tem observado "um aumento visível" da
delinquência juvenil na área metropolitana de Lisboa, diz João Pedroso,
ressalvando ainda que "todos os jovens" levados a tribunal vêm de
famílias empregadas, embora a viver com o salário mínimo e com profissões pouco
qualificadas.
Por outro lado, os grupos familiares
deparam-se com "múltiplas problemáticas", de violência doméstica
(23%) a negligência parental (mais de 30%) ou dependências de álcool ou drogas
(10%).
Por Kátia Catulo, Jornal i