“As escolas e as comunidades escolares precisam de conhecer
as práticas que outras escolas desenvolvem, compreender e analisar os modos
como trabalham e se organizam pedagógica e curricularmente e fazer deste
conhecimento um conhecimento contextualizado e da sua gestão um recurso central
que seja ele próprio usado como instrumento de governação.”
José Verdasca
O modelo das três camadas
aplicado à educação é um modelo que pressupõe três níveis adicionais de
intervenção, com intensidade crescente, para a inclusão e a promoção do sucesso
educativo de todos e para todos.
Este modelo assenta numa forte
base educativa numa perspetiva de intervenção precoce em que, ao primeiro
sinal, são cumulativamente oferecidas intervenções educativas ao longo das três
camadas, com níveis de intensidade crescente que vão sendo cada vez mais
segmentadas e explícitas, diferindo pela duração, frequência, tamanho do grupo,
foco do conteúdo e frequência da monitorização de progresso.
A primeira camada é constituída
pela base curricular na qual o currículo do ensino geral é ministrado em
contexto de sala de aula e em ambiente de aprendizagem favorável às diferentes
necessidades dos alunos, pressupondo o uso de metodologias de diferenciação
pedagógica através da aplicação das mais diversas estratégias de diferenciação ao
encontro das capacidades e estilos de aprendizagem de todas as crianças do
grupo/turma.
Sendo esta primeira camada a base
de todas as estratégias e intervenções que possam vir a ser formuladas esta deverá
servir eficazmente a grande maioria dos alunos por isso quando mais de 20% dos
alunos revelarem necessidade de intervenções suplementares ou intensivas
individuais os professores deverão equacionar a reformulação da base, uma vez
que o modelo das três camadas tem como indicador que quando menos de 80% dos
alunos não consegue ter sucesso a estratégia utilizada poderá não ser a mais
adequada.
A segunda camada é constituída
pelas intervenções suplementares aos alunos que, em consequência das avaliações
efetuadas, são referenciados por estarem em risco de não conseguirem sozinhos
acompanhar o currículo base. Estas intervenções equacionam-se e aplicam-se o
mais rapidamente possível, em pequeno grupo, focadas nas necessidades registadas
até que se verifique que as dificuldades inicialmente descritas foram
ultrapassadas, tendo por base os resultados da monitorização de progresso do
desempenho dos alunos.
A terceira camada é constituída
pelas intervenções intensivas individuais aos alunos identificados em situação
de alto risco ocorrendo, preferencialmente, de modo individual com o objetivo
de acelerar a taxa de aprendizagem pelo aumento da intensidade da intervenção
em adição ao currículo de base. A monitorização também é mais frequente com recurso
a avaliações suplementares específicas para isolar os défices e guiar o desenho
da intervenção.
No modelo das três camadas a
educação especial não é vista como um sistema à parte mas antes como um sistema
integrado na primeira camada, ao nível da base curricular, enquadrado nas
necessidades muito específicas destes alunos, no entanto a educação especial
também pode ser encarada como uma quarta camada quando um aluno não consegue responder
positivamente às intervenções oferecidas ao longo das três camadas.
Em contexto de prestação de
serviços dentro da escola tanto na vertente académica como na vertente
comportamental, o modelo das três camadas pode ser aplicado tendo por base
recursos de intervenção. Para o sistema académico existe o modelo RTI - Response to Intervention (resposta à intervenção)
que identifica precocemente alunos com necessidades de aprendizagem que, não
conseguindo acompanhar o desenvolvimento do grupo, necessitam de intervenções
mais específicas.
Para o sistema comportamental
existe o modelo RtlB - Resource teacher: learning and Behavior (recurso do professor: aprendizagem e comportamento)
que, como recurso para alunos com dificuldades de comportamento, pretende
prevenir comportamentos inapropriados e simultaneamente ensinar e reforçar
comportamentos adequados dando resposta às necessidades dos alunos e das
famílias.
Por fim mas não menos importante realça-se
a necessidade de fidelidade do sistema que essencialmente se define por pensar
em que grau ocorreu a implementação de acordo como foi desenhada, pensada e
intencionada, relativamente ao modo como foi entregue, ao modo como foi
realizada a triagem, ao modo como foram implementadas as intervenções e ao modo
como foram monitorizados os processos. Em resumo é a necessidade de garantir
que, ao longo das várias camadas, os processos são implementados e entregues
conforme foram pensados.
Para que o modelo funcione é
necessário que haja capacitação de todos os envolvidos na sua aplicação paralelamente
a uma forte comunicação, principalmente os professores com
os pais, com os diretores, com os técnicos e com os auxiliares da educação,
para que todos compreendam a natureza do modelo e colaborem para o seu sucesso
em interação com os alunos a quem se destina.
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