terça-feira, 29 de outubro de 2013

Educação Pré-escolar e Primeiro Ano do 1.º Ciclo: uma questão de sequencialidade

"No ano lectivo de 2012/2013, a equipa de educação do programa K’CIDADE (Fundação Aga Khan Portugal) desenvolveu em dois agrupamentos de escolas junto dos quais assume a função de perito externo, um projeto de investigação-ação a par de um programa de formação que apostou na prática reflexiva e que envolveu simultaneamente educadores de infância e professores de primeiro ciclo.
Num dos agrupamentos, constituíram-se dois grupos de trabalho, um só com educadoras e outro só com professores, enquanto no outro agrupamento, o grupo foi misto, tendo sido partilhadas as atividades propostas.
O trabalho centrou-se no desenvolvimento da linguagem escrita em crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 7 anos. No pré-escolar, deu-se particular atenção ao desenvolvimento de competências preditoras da aprendizagem da linguagem escrita, como a consciência fonológica, a descoberta da funcionalidade da linguagem escrita e a evolução das escritas inventadas; sempre através de atividades lúdicas e contextualizadas. A avaliação final revelou um impacte muito positivo que estas atividades tiveram na evolução das conceptualizações da linguagem escrita das crianças.
A par, realizou-se uma oficina de formação que abordou estes mesmos tópicos. Ao longo da oficina, fez sentido introduzir outros contributos importantes para a reflexão em torno de um meio educativo mais eficaz e mais acolhedor, observando para esse fim, aspectos ligados à diversidade linguística e cultural e explorando materiais cujas representações diversificadas e elementos imaginativos possam contribuir para valorizar a diversidade como riqueza em sala de aula. Estes contributos decorreram da experiência acumulada do programa K’CIDADE noutras escolas, de intervenção prioritária ou não, a partir de um projeto-piloto centrado sobre facilitadores para a diversidade em contexto escolar.
No primeiro ciclo, o trabalho focou-se na aprendizagem formal da linguagem escrita, dando continuidade aos temas abordados no pré-escolar, e na diferenciação pedagógica necessária para um trabalho bem-sucedido.
Quis-se, ainda, com estas ações, promover uma maior e melhor articulação pedagógica entre educadores e professores de 1.º ciclo. No grupo misto, a partilha de práticas e a apresentação mútua de materiais gerou um melhor conhecimento das atividades que se podem realizar no pré-escolar para a aprendizagem da linguagem escrita e da forma como estas mesmas atividades podem ser continuadas no 1.º ano.
Particularmente significativo foi a constatação de que, através dos portefólios que as crianças constituíram no jardim-de-infância, podem ser elas a “acolher” o seu professor de 1º ano de escolaridade, mostrando tudo o que já são capazes de fazer.
Aqui, novamente, foi claro como uma boa articulação entre grupos é tão ou mais importante do que a articulação horizontal que se instalou em muitos agrupamentos de escola, com o surgimento dos departamentos dos grupos 100 e 110 para a coordenação entre estabelecimentos do mesmo agrupamento, em detrimento da discussão pedagógica entre estes grupos profissionais, às vezes residual, no seio do conselho pedagógico."

Pascal Paulus 
Equipa peritos externos TEIP (Fundação Aga Khan Portugal)

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